O mundo absurdo de Quentin Tarantino pode ser um cenário incrível para RPG de Mesa! Entenda como jogar RPG no Universo Tarantino!
Imagem: Prathap Ravishankar
Sangue espirrando por todas as paredes e pedaços de corpos voando; diálogos inesperadamente corriqueiros, com uma pitada generosa de comédia; um mundo macabro, de onde o crime emerge. Aviso que o texto dessa semana escorre sangue por entre as linhas e deve chocar os de estômago fraco. Então, se quiser saber mais sobre RPG no universo Tarantino, leia por sua conta e risco!
O universo de Quentin Tarantino é, sem dúvida, um dos mais originais já criados no cinema. Não apenas por ser extremamente chocante e violento, mas por entremear um cotidiano quase banal com momentos catárticos de violência gratuita e uma edição exacerbada. No texto dessa semana darei sugestões para adaptar sua campanha/aventura de RPG ao universo Tarantino!
Não entrarei no mérito do sistema de regras a ser jogado, pois muito do universo de Tarantino pode ser adaptado para qualquer período histórico. Basta dar uma olhada na filmografia do diretor para perceber que o universo se mantém independentemente da época retratada. Por exemplo: Bastardos Inglórios se passa durante a segunda guerra mundial; Django Livre, em meados de 1800; e Tempos de Violência retrata os anos 90.
De quanto sangue eu preciso em um RPG no Universo Tarantino?
Antes do sangue começar a esguichar, vamos pensar em como podemos trazer para dentro de uma aventura de RPG o universo Tarantino.
Este é um mundo que se apoia em 3 pilares principais: O cotidiano, os momentos “exploitation” e o jogo. Todos igualmente importantes para a construção de um universo conciso e coerente. Vamos começar pelo primeiro - e que jorre o sangue!
O cotidiano
Dentro deste universo, os diálogos e as interações entre os personagens são sempre pautados em torno do banal, do corriqueiro. Comer, ir ao banheiro, conversar sobre cultura pop e hábitos de consumo; tudo isso acontece dentro dos parâmetros de um filme de gênero (ação, policial, drama, comédia e outros). Mas sofrem uma quebra abrupta para revelar um universo que beira o irreal e o absurdo.
Estas conversas e situações cotidianas são quebradas pelo puro acaso para revelar desfechos violentos que contrapõem o tom da conversa corriqueira e geram espanto. Mas cuidado! O fato de as conversas serem “banais” não tira delas sua importância narrativa para a construção das personagens e do enredo.
Então, tenha em mente que, em sua aventura de RPG no universo Tarantino, os diálogos serão pautados ao redor de aspectos do cotidiano banal. Isso inclui cultura pop, programas de televisão, comer, ir ao banheiro, dirigir, sexo ou drogas. Além disso, haverá uma quebra abrupta na narrativa que trará o irreal, o absurdo e o sanguinolento.
Tente sempre manter este viés quase cômico em seus diálogos, pois eles farão um contraponto com a violência excessiva dentro do cenário. Contudo, apesar de abordar situações banais, elas devem servir para construir o personagem. Além disso, também apresentam o ambiente ou trabalhar nas entrelinhas para fornecer informações disfarçadas. Cada diálogo importa!
Momentos exploitation
Em meio a uma conversa banal e corriqueira, quando menos esperamos, este momento vem. Rasgando corpos no meio, com membros humanos decepados voando em todas as direções. Com torturas explícitas e maquiavélicas. Com poças de sangue se alastrando. Tudo no universo de Tarantino é resolvido através da violência extrema.
A grande questão aqui é como fazer com que esta violência explícita chegue a níveis que beiram o absurdo. Para isso, possuímos alguns artifícios narrativos que podem nos ajudar.
É importante lembrar que estes momentos de violência vêm da quebra abrupta da normalidade excessiva dos diálogos. Desta forma, apesar de extremamente intensa, têm pitadas de humor dentro de seus absurdos. Isso se dá através de uma alternância no ponto de vista do cenário. Uma mudança abrupta de tom, que traz a violência com um olhar irônico e distanciado da cena.
Outro fator importante é que o tempo despendido para esta violência é alongado. Isso ocorre justamente para gerar um choque no espectador (ou jogador), para deixá-lo desconfortável. Fato é que, através deste artifício, os momentos de violência acabam por interromper por completo a narrativa linear. Geram ações sensoriais e psicológicas que submetem os personagens a um choque de realidades; de um lado a banalidade, de outro a violência exacerbada. Além disso, esses momentos geram digressões narrativas que dividem o filme (ou aventura) em segmentos independentes.
Em outras palavras...
Ao jogar RPG no universo Tarantino, não tenha medo de quebrar abruptamente sua linha temporal em momentos chave; ou de fazer com que algum acontecimento em outro espaço temporal choque os personagem e ressignifique suas ações. Não hesite também em fazer com que esses momentos de violência sejam muito mais longos, extremos e descritivos, apesar de cômicos.
É importante também fazer uma relação entre o universo deste diretor e o cinema de atrações. Nos primórdios do cinema, em vez de contar histórias para o público, os diretores buscavam trazer imagens excêntricas. Enquanto divertiam, chocavam e provocavam surpresa. E é justamente desta maneira que a violência opera dentro deste universo: com todos os seus excessos, tempos alongados e descrição excessiva, que busca chocar, divertir e entreter o público (jogadores).
O jogo de RPG no Universo Tarantino
Dentro da violência e da banalidade, há outro artifício narrativo extremamente utilizado: a quebra da ficção para revelar o aparato narrativo.
Esta quebra pode vir de cortes abruptos na edição ou efeitos de câmera; mas também da presença de um narrador (seja ele um personagem ou não); de elementos gráficos e textuais sobrepondo a imagem; e de muitas outras formas. Contudo, tudo isso acontece entremeado a uma certa metaficção. Assim, são criadas paródias de situações corriqueiras no cinema de gênero. Cenas comuns e clichês de outros filmes de gênero que ganham um novo significado.
Pense em como estas intervenções podem ocorrer do ponto de vista do narrador, seja com uma descrição cinematográfica(planos, cenas, cortes, enquadramentos) dos acontecimentos, seja através da utilização de clichês. Procure também evidenciar a ficção nestes momentos. Mas cuidado. Quebrar a imersão demais ou no momento errado pode acabar desvirtuando as ações dentro de uma mesa de RPG. Sendo assim, use esses momentos com sabedoria.
Outra opção para evidenciar “o jogo” sem quebrar por completo a imersão é utilizar uma trilha sonora que seja pouco usual para o momento. Um tiroteio sangrento acontecendo em câmera lenta ao som de música clássica pode servir para criar um momento irreal e absurdo dentro da narrativa. De qualquer forma, a questão aqui é evidenciar o filme por trás da aventura.
Que o filme comece!
Agora, munido de todos os artifícios para o RPG no universo Tarantino, será mais fácil posicionar estes elementos narrativos dentro de sua aventura! Não sinta medo de inovar. Em síntese, este universo é pautado pelo absurdo e pelo irreal. Portanto, não tenha receio de se distanciar de uma narração de RPG mais tradicional.
Acima de tudo, sinta-se livre para utilizar tudo, parte ou absolutamente nada deste material. Pois, assim como nos universos de Tarantino, uma aventura de RPG sempre é única e original.
Gostou do texto desta semana? Quais outros universos cinematográficos você gostaria de adaptar para o RPG? Deixe aqui embaixo nos comentários!
Boas aventuras, muito sangue, e até a próxima!!!
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