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Criando uma Personagem Completa

Foto do escritor: Julianna CarmoJulianna Carmo

Atualizado: 9 de nov. de 2020

Quatro passos para criar uma personagem em qualquer jogo de RPG!

Imagem: cyberaeon


Criar personagens dá trabalho. A gente tem que pensar em tanta coisa! Dependendo do jogo, é um trabalho de horas. Tantos números, tantas características para determinar, recursos para escolher, talentos, armas, armaduras, qualidades, poderes, defeitos, perícias, graduações... Nossa! Tanta coisa para lembrar, não é mesmo? Tanta que, às vezes, ainda fica aquela sensação de “será que eu tô esquecendo alguma coisa?”. Além de tudo isso, este processo pode ser muito diferente entre um sistema e outro. Certos sistemas te dão pontos para aplicar à vontade; alguns te dão listas enormes de características para escolher; outros juntam tudo isso e ainda mais. Mas o caminho de criação de personagens que vamos percorrer aqui é outro.


O que é uma personagem? O que torna uma personagem completa? Como escolher a melhor personagem para aquele cenário ou sistema? Antes das respostas, é sempre importante reforçar que a diversão e o respeito devem te guiar em todas as escolhas. É para a mesa que aquela personagem nasceu, portanto escolha ou crie sua personagem pensando em quão divertido será interpretá-la, sempre respeitando todos os que estarão nessa aventura com você. Agora, com o respeito e a diversão estabelecidos como pilares, vamos avançar neste caminho para a criação da nossa personagem completa.

A inspiração


Em vez de começar a pensar em sua personagem do zero, você pode escolher algo ou alguém para se inspirar. Qual foi a primeira imagem que veio na sua cabeça quando você pensou naquela personagem ou cenário? Alguma série? A cena de um filme? Uma protagonista que você gosta muito? Essa imagem pode ser uma inspiração para você dar o pontapé inicial.


Ter algo para se inspirar é muito útil, principalmente quando você não sabe por onde começar. Eu uso muito este recurso quando vou experimentar um novo cenário. Procuro alguma referência que eu goste em um cenário similar e posso partir daí. Isso não significa que sua personagem tem que ser igual à sua fonte de inspiração - ela pode se tornar totalmente diferente no final do processo. O essencial aqui é criar um ponto de partida quando você se sente empacado(a) na largada.


Como exemplo, lembro-me da primeira vez que joguei Blades in the Dark. Eu não conhecia o cenário e menos ainda o sistema de jogo, que é bem diferente dos convencionais. Contudo, assim que o mestre descreveu a cidade de Doskvol, minha memória me mostrou a imagem de Birmingham, cenário de Peaky Blinders (Série - Netflix); as duas cidades possuem muitas características similares, até mesmo em estruturas sociais. Daí pude, além de ter uma visão mais completa do cenário do jogo, escolher alguma personagem da série que pudesse me inspirar. Eu poderia me inspirar na Polly Gray; ou no próprio Thomas Shelby; no Arthur com seu temperamento explosivo; ou na Glace, com sua identidade secreta. Os exemplos podem ser vários. Escolha sua inspiração e vamos para o próximo passo.

À Primeira Vista


Para continuarmos nesse caminho, é necessário que você entenda que sua personagem não é a ficha. Ela não é um pedaço de papel que te mostra quantos dados você tem para jogar naquela ação. Ela também é isso, claro, mas, para que ela seja uma personagem completa na mesa, capaz de tomar decisões coerentes e ser atuante na construção da narrativa, ela precisa ser mais do que isso. Precisa ter uma história, manias, medos... Eu sei, eu sei. Parece ser ainda mais coisas para pensar, não é mesmo? Mas aí que está o segredo: se você já tiver avançado os passos que seguiremos aqui, as escolhas mecânicas que você fizer depois, além de fazerem mais sentido, serão muito mais fáceis. Na verdade, elas já terão sido feitas; você só precisará identifica-las no livro e passar para a ficha.


O próximo passo, então, é definir a aparência física de sua personagem. Elabore-a no nível mais superficial, concebendo a imagem de alguém que a estivesse vendo pela primeira vez. Como se veste? Que tipo de vocabulário usa? É uma figura que inspira confiança? Parece receptiva com desconhecidos ou tem cara de poucos amigos? O que uma pessoa que compartilhou a fila do pão com sua personagem diria dela?


Essa é a primeira camada. É a imagem que o NPC (ou personagem do(a) mestre) terá em um primeiro encontro. Quais conversas ela teria com alguém que acabou de conhecer em uma festa? Características simples como “está o tempo todo mascando chiclete ou “parece estar sempre sorrindo, por exemplo, já darão muito mais vida à sua personagem em uma cena.

Moderado


Agora que conhecemos sua personagem, vamos estreitar as relações para além da Primeira Vista. Ela possui amigos, companheiros de aventura e aquele NPC que agora é um aliado mais próximo. Talvez sua personagem tenha feito amizade com a dona da Taverna: “às vezes, quando só restam aqueles que são derrubados pelo último gole, vocês se divertem trocando histórias da Taverna por um mundo de aventuras.“. Neste caso, pode haver uma bebida preferida que você já pensou na camada anterior. Ela pode beber somente água, por exemplo, o que a mantém sóbria com a taverneira.


Nesta camada, definimos as características familiares para um amigo ou um colega de trabalho; alguém que compartilhe negócios e/ou objetivos. Um pouco mais do que somente um conhecido, mas sem intimidade suficiente para confidências. É como quando convivemos com alguém certo tempo, mas ainda com puridades.


Este deve ser o nível em que sua personagem mais vai agir, pois, geralmente, é onde estão os companheiros de aventura e a maior parte das relações do jogo. Como eles te veem? O que sabem sobre sua personagem? Claro que, no princípio, não é necessário que se tenha resposta para tudo. Afinal, assim como na vida real, a jornada vai nos moldando e mostrando coisas a respeito do que somos, gostamos e queremos. Portanto, pense no que for principal, essencial; nos comportamentos mais frequentes e nas conversas mais interessantes. Durante a jornada, deixe que sua personagem vá desenvolvendo especificações que enriqueçam sua história. Agora, você já entende que subir de nível na ficha significa mais do que bônus que aumentam; são experiências que vão se acumulando aventura após aventura.

Confidencial


Chegamos na última camada, a mais profunda, a que talvez só sua personagem conheça. Aqui estão os sonhos mais íntimos, “seus desejos mais secretos, seus sentimentos inconfessáveis, sua loucura. ” (MACIEL, Luis Carlos, 2003). Sua personagem pode ter um drama familiar que ninguém desconfia, mas que rege todas as suas decisões; ou algum crime que a atormenta diuturnamente. Talvez ela já tenha enfrentado a própria morte. No que esta experiência a modificou?


Também pode ser algo mais simples, como vícios, manias ou medos embaraçosos. Lembre-se que simples não é, necessariamente, superficial. Se sua personagem tiver um vício em bebidas, por exemplo, ao atingir esta camada, o vício já a teria controlado. Talvez a tenha levado a cometer algo de que se arrepende profundamente, ou é o motivo pelo qual, hoje, ela permanece sóbria nas noites da taverna.


Se optar por manter o vício, mas sem tantas consequências, ele se encaixaria melhor em Moderado, pois pessoas próximas com certeza saberiam desta condição, mas não existe nada ali para se aprofundar. O Confidencial não costuma se manifestar em ações diretas no jogo. Talvez, mesmo em uma conversa íntima, seria desconfortável. Porém, como nos exemplos acima, ele pode ser o centro de seu maior objetivo, um trauma irreversível ou uma experiência inestimável.

Chegamos!


Vou te dar uns minutinhos para pensar na trajetória da sua personagem até aqui. Está sentindo que falta alguma coisa? Ah, sim. Falta definirmos o nome dela. Esta parte do processo pode ser muito particular. Algumas pessoas já partem da inspiração de um nome, outras se apegam a ideias durante o caminho da criação. Há ainda os que, depois de olhar para sua personagem pronta, decidem como ela deve ser chamada. Fique à vontade!


Agora sim! Olhe para sua personagem. Consegue perceber que, daqui, ela nem precisa de uma ficha para existir? Ela já existe! Você é capaz de imaginar seu olhar desde o primeiro aperto de mão, até o brilho dos seus olhos ungidos com o sangue do inimigo. A partir daqui, resta a interpretação das regras aplicáveis em tudo o que sua personagem já é.


Algumas características não terão interferência mecânica, mas podem te guiar nas escolhas. Se definiu na Primeira Vista que sua personagem “fala alto” e “tem uma cicatriz no rosto”, por exemplo, estas características podem te guiar a escolher um soldado em Starfinder, com uma marca de batalha, ou uma heroína em Mutantes & Mafeitrores que tem um super-poder sônico na voz.


Ela é uma personagem completa, que pode existir em qualquer cenário/sistema, pois ela existe antes disso. Se você começou pela Inspiração, já com cenário definido, mesmo assim você tem informações suficientes, independentes de sistemas de jogo, que te permitiriam transportá-la para outras histórias, outras aventuras. Agora é só se lançar no mundo de RPG que você escolher.


Divirta-se!

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